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Uma vida plantada com coragem

Empresária do Gama, que perdeu a mãe aos 11 anos e foi abandonada pelo pai, construiu sua trajetória de luta e hoje comanda o Espaço Império Verde, referência em eventos
Por Jamile Rodrigues | Clip Clap Comunicação
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Uma vida pode ser moldada por escolhas, mas também por imposições do destino. No caso de Márcia Dantas, as primeiras páginas de sua história foram escritas entre dores e responsabilidades precoces. Órfã de mãe aos 11 anos e abandonada pelo pai pouco depois, ela se viu diante da missão de criar e proteger o irmão mais novo. “Naquele dia, entendi que eu tinha parido um filho sem tê-lo gestado”, relembra.

Ainda na infância, aprendeu a lutar pelo sustento da família. Aos 12 anos, começou a trabalhar vendendo batons nas ruas de Taguatinga e, pouco tempo depois, vendia bijuterias e roupas para garantir comida em casa. A infância roubada se transformou em escola de vida, onde disciplina, coragem e persistência eram as únicas matérias.

Aos 14 anos, Márcia foi levada a um relacionamento com um homem de 22 anos, policial civil. O namoro arranjado, que ela jamais desejou, se estendeu por 17 anos. Desse período nasceram dois filhos e também uma intensa rotina de trabalho. O casal acumulou quase 40 imóveis. Mas o que aparentava ser uma vida de conquistas escondia controle e violência

A separação, aos 32 anos, foi dolorosa. Sob coação, Márcia foi obrigada a abrir mão de todo o patrimônio que ajudou a construir. “Eu era usada, mas não entendia. Trabalhava muito, cuidava da família, e mesmo assim perdi tudo”, conta.

Foi graças à intervenção de uma promotora de justiça que sua vida tomou outro rumo. A autoridade percebeu a coerção a que Márcia era submetida e garantiu que ela mantivesse pelo menos um bem: uma chácara no Gama com cerca de 600 bananeiras.

Sem recursos e sem alternativas, foi nesse pedaço de terra que Márcia plantou as sementes de seu futuro. O primeiro evento surgiu quase por acaso, quando um rapaz bateu à sua porta oferecendo R$ 700 para realizar uma festa na varanda da casa. Ela hesitou, mas o incentivo do filho, que na época tinha nove anos, foi decisivo.

Foto: Cláudio Reis

O boca a boca fez o negócio crescer. Em pouco tempo, a chácara já recebia festas com frequência. Mais tarde, com a orientação de uma jornalista que percebeu o potencial do espaço, Márcia buscou crédito junto a um banco e construiu uma área rústica para casamentos e eventos sociais. Assim nasceu o Espaço Império Verde, que rapidamente se consolidou como referência em eventos no Gama. ‘‘Nunca tive medo de trabalhar. Quando consegui o empréstimo, reformei o que pude e comecei o trabalho por aqui. Fazíamos quinze eventos ao mês e fomos consolidando o nosso espaço’’, relembra.

Mas, como para tantos milhões de empreendedores, a pandemia trouxe um novo golpe. Com a suspensão de eventos e a queda da demanda, a margem de lucro, que antes girava em torno de 30%, despencou para cerca de 18%. Márcia viu o negócio encolher e precisou se endividar para manter a estrutura funcionando. “Se ainda não fechei as portas, é porque o imóvel é meu. Se tivesse aluguel, já teria quebrado”, admite.

Nesse período, ela não mediu esforços para tirar sustento do espaço. Já vendeu mexericas do próprio quintal, alugou materiais de decoração e explorou cada possibilidade para manter a chácara viva. “Já tirei dinheiro daqui de todas as formas: de pé de mexerica a grandes festas. Sei que Deus me deu esse espaço para transformar em vida e futuro”, celebra.

Com o tempo, o Império Verde se fortaleceu e passou a contar com novos aliados. Márcia firmou parcerias com buffets, decoradores, cerimonialistas e até celebrantes, ampliando os serviços oferecidos e garantindo maior profissionalização ao espaço.

Inspirada no tradicional “Quintal da Dona Graça”, ela também criou a “Farra da Márcia”, festa junina que se tornou marca registrada do espaço e já entrou para o calendário afetivo dos moradores do Gama, atraindo famílias inteiras em busca de tradição e diversão.

Mas sua visão vai além dos eventos. Com o avançar da regularização de áreas rurais no DF, a chácara de 60 mil metros quadrados vai criando formas de área urbana, abrindo espaço para novos projetos. E Márcia, aos 52 anos, já tem um novo projeto em mente: a construção de um condomínio vertical ou galpões comerciais. “A hora é agora. Quero dar um passo maior e transformar esse espaço em algo que vai garantir o futuro da minha família. Trabalho há muitos anos e agora é hora de viver um pouco do fruto desse trabalho”, brinca.

Serviço – Espaço Império Verde

Contato: 61 98425-6276

Redes Sociais: @imperioverde/

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