As tarifas comerciais impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Brasil e a diversos países ao redor do mundo foram o destaque da programação da nona edição do Lab Day, realizada em 2025. O evento, promovido mensalmente pelo Sebrae no Distrito Federal, reuniu pequenos empreendedores e produtores rurais no Sebraelab, no Parque Tecnológico de Brasília (BioTIC), oferecendo um espaço dedicado à troca de conhecimento, esclarecimento de dúvidas e incentivo ao networking, além de fomentar novas oportunidades de negócios.
Carlos Cardoso, gerente da unidade de Negócios em Rede do Sebrae no DF, abriu a programação do evento destacando a força do agronegócio para o desenvolvimento da economia do Distrito Federal e do Brasil. Ele salientou a colaboração mantida pela instituição com outras organizações locais, como a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater/DF), o Sistema FAPE-DF/Senar/Sindicatos e a Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural do Distrito Federal, além de reconhecer o relevante papel das mulheres para o avanço do setor.

O gerente também refletiu sobre as oportunidades que podem surgir em tempos de crise, sobretudo em decorrência das altas tarifas sobre produtos, e reafirmou o compromisso do Sebrae em apoiar os donos de micro e pequenos negócios. “Estamos à disposição para ajudar cada um de vocês a conseguir reduzir custo, aumentar lucro, a produtividade e a estabelecer contatos para vislumbrarem futuras oportunidades”, assegurou.
Eduardo Schulter, superintendente do Sistema FAPE-DF/Senar/Sindicatos, também reconheceu a importância das parcerias para fortalecer a cadeia produtiva do agro no DF, de modo especial a construída com o Sebrae para atender pequenos produtores da porteira para dentro das propriedades. “Sebrae e Senar são instituições ligadas umbilicalmente e que trabalham juntas para fortalecer o agronegócio no Distrito Federal”, assegurou.

Schulter ainda comentou sobre a imposição do tarifaço, reconhecendo as incertezas que afetam os produtores rurais e expressou a expectativa de que o Lab Day proporcionaria clareza sobre o assunto.
O destaque do evento ficou por conta da palestra “Pé na terra, olho no futuro”, conduzida pelo engenheiro agrônomo Thiago Campos. Com passagem pela Embrapa Hortaliças, ele também atua como consultor credenciado do Sebrae e do Senar no DF, além de ser sócio fundador da Academia Malunga, cujo propósito é promover a formação, a educação e a capacitação de produtores, técnicos, consultores, consumidores e entusiastas em sistemas sustentáveis de produção agropecuária.
Durante a apresentação, o público participante do evento pôde conferir as reflexões e estratégias propostas para que os empreendedores rurais possam driblar os desafios impostos pelo tarifaço e prosperar em tempos de incertezas econômicas.
O engenheiro agrônomo pontuou que os Estados Unidos se consolidaram como o segundo principal destino das exportações brasileiras em 2024, alcançando um montante de US$ 40 bilhões. Contudo, o aumento das tarifas impacta diretamente a competitividade dos produtos brasileiros, tornando-os mais caros no mercado americano. Este efeito é notável em setores como a horticultura e a fruticultura, que enfrentam uma redução imediata na sua capacidade de competir.
Em relação aos produtos agrícolas do Distrito Federal e da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (RIDE), o palestrante afirmou que a exportação direta de produtos agrícolas do Distrito Federal é relativamente pequena e que, consequentemente, a incidência de sobretaxas específicas é menor em comparação com outras regiões do país.

A partir da explicação do cenário, Thiago prosseguiu com estratégias para que os empreendedores possam prosperar localmente. As sugestões partilhadas incluíram venda direta (feiras, cestas, delivery) para maior lucro e menos intermediários, redução de custos com biofertilizantes e insumos, adaptação de cultivos à demanda local, inovação com produtos orgânicos e artesanais, e a adoção do agroturismo. “É fundamental diversificar a produção para reduzir riscos, apostar em valor agregado, promover vendas diretas ao consumidor, inovar em experiências rurais e usar a sustentabilidade como diferencial competitivo”, afirmou ele.
Ao concluir sua apresentação, Thiago projetou um olhar para o futuro, destacando oportunidades e a importância da preparação. Ele ressaltou o crescimento da demanda por produtos orgânicos e sustentáveis, indicando um mercado em expansão para produtores que adotarem essas práticas. A aproximação com o Mercosul e outros países demandantes também foi mencionada como um caminho para ampliar mercados.
Thiago ainda ressaltou o potencial brasileiro com sua capacidade produtiva e recursos naturais para atender à demanda global, destacou o papel de organizações governamentais para acessar o mercado externo e a importância e a necessidade de certificações para aceitação internacional. Ele também sugeriu a adoção de boas práticas agrícolas e o desenvolvimento de características empreendedoras.
Cristyano Martins, sócio fundador da Sustentagro, foi um dos empreendedores que acompanhou a realização do evento. Ele e o irmão começaram a trajetória da empresa em 2022 e já estão consolidados no mercado nacional como uma indústria fabricante de substrato de fibra de coco.
A Sustentagro já possui uma filial no Ceará e tem como meta a estruturação para o mercado de varejo em 2026, apesar de atualmente focar na venda direta. Além disso, há negociações bem avançadas para exportar parte da produção para países como Peru, Chile e Portugal já nos próximos meses. “Acompanhar essa palestra ajudou a confirmar parte da nossa estratégia, mas também abriu os nossos olhos. Eu e meu irmão saímos do evento com mais confiança e com a esperança de que podemos alcançar diversos outros mercados. O mundo é realmente muito grande e não é necessário focar apenas nos Estados Unidos ou em um outro país”, analisou Cristyano.
Na avaliação de Ivan Silva, analista do Sebrae no DF e gestor dos projetos de agronegócio da instituição, a programação do Lab Day ofereceu uma oportunidade ímpar ao discutir as tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos. Ele enfatizou que a ideia de trabalhar o tema surgiu pela magnitude que o assunto ganhou desde que foi anunciado e que a intenção do Sebrae visava preparar os produtores para os desafios e as oportunidades decorrentes dessas mudanças. “Nosso objetivo é munir os produtores com o conhecimento necessário para que possam não apenas se adaptar, mas também identificar novas oportunidades em um cenário econômico em constante mutação”, destacou.

Leonardo Zimmer, analista e gestor de projetos de agronegócio do Sebrae no DF, ressaltou que o evento atingiu plenamente seu objetivo de traduzir um contexto mundial e torná-lo acessível e compreensível para os empreendedores rurais. Ele ressaltou, ainda, que o evento não apenas focou nos desafios, mas principalmente nas oportunidades, especialmente no que tange a insumos, acesso a novos mercados e agregação de valor. “Em todos esses aspectos, o Sebrae dispõe de soluções e diferentes formas de apoiar o pequeno produtor rural do DF. São consultorias, instrutorias e diversas atividades, como o evento realizado hoje, que trouxe conteúdos e indicou caminhos para o desenvolvimento e o acesso a novos mercados”, completou.

