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Da mesma forma que a música tem o poder de tocar os corações mais profundos, muitas vezes ressoando na alma de indivíduos específicos, a educação transcende fronteiras, sendo fundamental para abrir novos caminhos, ampliar horizontes e iluminar mentes, dotando-as de conhecimento. A harmonia resultante da combinação desses dois fatores de transformação é chave para o sucesso do Projeto RAP (Ressocialização, Autonomia e Protagonismo) DF, uma iniciativa promovida no Núcleo de Ensino da Unidade de Internação de Santa Maria, que figura entre as 10 melhores instituições indicadas ao posto de melhores escolas do mundo em 2024.
A premiação, intitulada World’s Best Schools, é promovida pela T4 Education com o objetivo de celebrar e reconhecer globalmente escolas inspiradoras por suas contribuições de impacto para as comunidades em que estão inseridas. A unidade de Santa Maria concorre na Categoria Superando Adversidades, que premiará escolas que superaram desafios significativos, como desastres naturais ou conflitos. A unidade brasileira concorre juntamente com instituições de países como Estados Unidos, Nigéria, Ucrânia, Polônia, entre outros.
“O projeto começou em 2015, no ano em que comecei a dar aula aqui na unidade. Percebi que os jovens que aqui estavam, não se identificavam com as histórias contadas nos livros didáticos, mas se sentiam bem nas narrativas das histórias narradas nas letras de rap. Com isso eu passei a utilizar o estilo musical como uma ferramenta pedagógica e assim conseguimos despertar a potência presente em cada jovem e transformar trajetórias de vida”, conta o idealizador do projeto, Francisco Celso Freitas.
Foto: Rafael Victor | Focus Produção de Imagem
O educador, que ministra aulas de História na unidade, explica ainda que os jovens em processo socioeducativo possuem conhecimentos que, muitas vezes os profissionais não possuem. “Eles carregam a potência do rap, da cultura urbana, da cultura hip-hop. O que a gente fez com a aplicação do projeto ao longo desses últimos anos foi gerar oportunidades para que essa potência inerente a cada um pudesse ser amplificada e valorizada”, acrescenta.
Os resultados alcançados em quase uma década são tão expressivos que já renderam dezenas de prêmios ao projeto. Neste ano, por exemplo, Francisco conquistou o Prêmio Educador Transformador. A ação, promovida de forma conjunta pelo Instituto Significare, Bett Brasil e o Sebrae, foi o 20º prêmio conquistado pelo RAP e visa reconhecer projetos educacionais transformadores, alinhados à educação empreendedora, que tenham sido implementados por professores de instituições públicas ou privadas do país.
À frente da direção da Unidade de Internação de Santa Maria há três anos, Lucian Rocha, celebra os resultados do projeto e cita a importância do trabalho em rede para viabilizar a ressocialização dos jovens. Segundo ele, a unidade conta com apoio da Secretaria da Educação, do Sistema S e Governo Federal para promover atividades escolares, cursos profissionalizantes e de lazer para os reeducandos. “O Sebrae é um grande parceiro, que ajuda a fomentar o empreendedorismo, auxiliado os jovens a se prepararem para o mercado de trabalho”, afirma.
Outra pessoa próxima ao dia a dia dos jovens, o diretor do Núcleo de Ensino da Unidade de Internação de Santa Maria, Luiz Cláudio de Araújo também menciona a importância do apoio oferecido pelo Sebrae para o desenvolvimento de projetos e expressa otimismo para continuar trabalhando a fim de melhorar os padrões da educação oferecida aos jovens em processo socioeducativo.
A analista da Assessoria de Gestão Estratégica e Políticas Públicas do Sebrae no DF, Dielle Braga, reitera a importância da Educação Empreendedora para a transformação da juventude atualmente. “A educação associada ao empreendedorismo é uma equação perfeita e fundamental para fomentar o protagonismo e a mentalidade empreendedora dos jovens, incentivando o e contribuindo para sua reintegração social”, pontuou.
Kelly Cristina mais conhecida no universo rapper como Majestoza é uma das centenas de jovens beneficiados pelo Projeto RAP. Ao compartilhar sua trajetória, ela conta que sempre faz menção de como a música transformou sua vida e de como as atividades do projeto a ajudaram a superar desafios financeiros, humanos e mentais, proporcionando-lhe uma nova perspectiva e oportunidades. “A música me resgatou de lugares onde achei que não haveria saída, de onde parecia não haver mais solução. Hoje, por meio do rap, da arte e do funk consciente, tenho conseguido alcançar meus objetivos e viver com uma sensação de dignidade. Consigo seguir adiante, administrar minha carreira, e ter a grande satisfação de chegar em casa e compartilhar momentos simples com minha família”, comenta a artista, de apenas 18 anos.
Após a escolha dos finalistas, a premiação está na fase de escolha popular, que acontece até o dia 28 de junho. O público interessado em contribuir para mais um reconhecimento do Projeto RAP poderá participar da votação acessando o site da oficial do prêmio.
Sobre a unidade
A Unidade de Internação de Santa Maria foi inaugurada em março de 2014 e possui uma área construída de 6,2 mil metros quadrados, compreendendo área de saúde, espaços para cursos e oficinas profissionalizantes, atividades pedagógicas, área para visitantes, teatro de arena, espaço para celebrações ecumênicas, refeitórios, ginásio coberto, campo de futebol, lavanderia e horta.
Atualmente, a unidade acolhe jovens do sexo masculino, com idades entre 18 e 21 anos, que foram sentenciados quando menores de idade. A capacidade da unidade comporta o acolhimento de até 140 jovens.
