Quase cinquenta dias após promover o início da capacitação do Programa Empreenda Mulher na Candangolândia, o Sebrae no Distrito Federal voltou à região administrativa para a entrega dos certificados de conclusão a um grupo de 23 mulheres. Elas concluíram todas as atividades previstas no cronograma da iniciativa, desenvolvida pela instituição em parceria com o Centro de Referência e Assistência Social (CRAS) da região administrativa e a Secretaria de Estado da Mulher do DF com o intuito de promover o empreendedorismo como alternativa de geração de renda, autonomia financeira e ruptura do ciclo de dependência econômica de mulheres em situação de vulnerabilidade.
A certificação ocorreu tarde de segunda-feira, 17 de novembro, em uma formalidade sucinta no Salão Comunitário da Candangolândia. O local foi o mesmo que sediou todos os seis encontros previstos metodologia do programa, que ofereceu módulos com abordagem completa. Os módulos abrangeram aspectos técnicos, como gestão financeira, precificação, marketing e boas práticas na manipulação de alimentos, e comportamentais, com foco no desenvolvimento da autoestima e da postura empreendedora.

O primeiro encontro da trilha abordou temas como empreendedorismo feminino e inovação para melhorar as vendas, além de reflexões sobre o desenvolvimento pessoal e a independência financeira. As participantes discutiram características essenciais para empreender, modalidades de negócio e formas de aumentar o lucro, como a redução de custos e a criação de novos modelos de vendas.
Ao longo de seis encontros semanais, as alunas participaram de oficinas presenciais e palestras dinâmicas que abordaram temas como autoconhecimento, motivação, planejamento de negócios, formalização como MEI, precificação, controle financeiro, vendas, atendimento ao cliente, uso estratégico das redes sociais, entre outros.

Entre as histórias das mulheres impactadas pela trilha de capacitação na Candangolândia está a de Maria de Fátima Ferreira. Aos 65 anos, ela relembra sua trajetória, incluindo os anos de trabalho na antiga sede da Eletronorte em Brasília e os esforços feitos em sua juventude para se destacar no mercado de trabalho. Há, no entanto, cenas que Fátima, como é mais conhecida, gostaria de apagar sem hesitar. “Por mais de 20 anos, sofri com uma relação extremamente abusiva da qual eu não conseguia sair. Quase todo dia via dedo na minha cara, ouvia palavras ofensivas e presenciava outros fatos que me diminuíam, mesmo sendo a provedora da casa”, contou ela.
Há cerca de 20 anos, a trajetória felizmente mudou, com Fátima encontrando meios e, principalmente, apoio para colocar um ponto final na relação e, assim, vislumbrar novos caminhos. Mas como a vida, em todas as suas fases, é marcada pela presença de desafios, ela precisou ser resiliente. Desempenhou várias funções, começou a ser assistida pelo Centro de Referência de Assistência Social de Planaltina de Goiás, onde fixou residência por algum tempo e, há três anos, chegou à Candangolândia para apoiar a filha na criação do neto. Na região, ela seguiu sendo acompanhada pela instituição e foi lá que ficou sabendo da realização do Empreenda Mulher.
A participação nas atividades acabou sendo determinante para Fátima verificar uma nova perspectiva em sua vida: ela quer ser uma empreendedora. “Desde muito jovem eu sempre me expressei bem, mas sempre tive dificuldades em gerir o meu dinheiro. Com o Sebrae eu recebi incentivo para aprender melhor sobre esse assunto e percebi que posso, sim, ter o meu próprio negócio. Penso em fazer um trabalho de transformar latas usadas em novos produtos, mas tenho outras ideias e quero continuar em contato com o Sebrae para ver qual a melhor para desempenhar”, complementou Fátima.
Valdênia Guimarães foi outra moradora da região a concluir a trilha de capacitação. Ela soube que a iniciativa seria realizada nas aulas do curso de bordado organizado pelo CRAS da Candangolândia. “Fui a um médico que me disse que estava ficando depressiva. E eu precisava de alguma coisa pra poder preencher aquele espaço, aquele vazio. Foi ai que surgiu o bordado na minha vida. É uma atividade que funciona como uma terapia. Comecei a fazer para ocupar o tempo, mas nunca cheguei a pensar em fazer para vender”, revelou.

Com o aprendizado obtido, Valdênia tem se especializado na confecção de bonecas artesanais a partir da técnica de fuxico, que consiste em juntar pequenos círculos de tecido com alinhavos nas bordas para criar volumes arredondados. O fuxico é uma tradição popular brasileira, criada no Nordeste, na época em que mulheres escravizadas aproveitavam retalhos de tecido para criar peças decorativas e utilitárias.
A bordadeira, que também tem se dedicado a produzir peças temáticas para o Natal nos últimos dias, ressaltou a relevância de participar das atividades do programa para aprimorar a profissionalização de seu trabalho. “Com essas atividades eu aprendi a colocar preço nos meus produtos. Era algo que eu não fazia ideia de como fazer. Saber calcular os preços das coisas que a gente compra para depois comercializar vai ser importante para eu conseguir crescer com a minha atividade”, completou.
Valdênia também falou sobre a expectativa de participar de mais iniciativas promovidas pelo Sebrae no DF. Sem formas de custear um espaço próprio no momento, ela já soube do apoio da instituição a pequenos empreendedores para a participação em evento diverso e já nutre a expectativa de participar de feiras locais, por exemplo, para expor e vender os itens que fabrica.
A analista da Assessoria de Políticas Públicas e Ecossistemas de Negócios do Sebrae no DF e gestora do Programa Empreenda Mulher, Rafaela Ferreira, celebrou o encerramento da iniciativa na Candangolândia. Ela falou acerca da necessidade de capacitar mulheres para desenvolverem habilidades e gerarem renda. “É gratificante acompanhar todo o processo de programa e observar o envolvimento delas. Além disso, ver elas compreendendo que podem criar oportunidades de renda, utilizando o que já sabem fazer”, pontuou.

Rafaela observou ainda que o programa transcende a mera capacitação técnica, proporcionando acolhimento e apoio emocional, aspectos essenciais para o impacto positivo na vida das participantes. “O Sebrae oferece mais que capacitação; ele proporciona esperança, acolhimento, compreensão, elementos que por muitas vezes são capazes de fazer uma pessoa reviver”, concluiu.

