A dança sempre esteve presente na vida de Bruna Mendes, de 21 anos – mesmo antes de ela saber que isso poderia virar profissão ou negócio. Nascida e criada no Pôr do Sol, na Ceilândia, ela cresceu inventando coreografias no quintal, improvisando palcos e passos sem nunca ter pisado em uma escola de dança. “Minha mãe não tinha condições de pagar aulas. Eu nem sabia que existia escola de balé por aqui”, lembra.
Quando finalmente conseguiu iniciar os estudos, por volta dos 10 anos, foi como atravessar uma porta que ela nem imaginava existir. “Entrei nesse mundo e me apaixonei. É um universo caro… meia-calça, collant, sapatilha de ponta de R$ 300 ou R$ 500. Mas minha mãe fez de tudo para eu continuar”, conta. Ali, nas aulas de balé do bairro, começou um percurso que a levaria, anos depois, a sonhar em abrir sua própria escola.
Os anos passaram e Bruna se formou como bailarina e logo foi incentivada pela professora a fazer um curso para dar aula. “Ela me deu o curso. Dizia que eu levava jeito com crianças. Desde então, dou aula. Já faz cinco anos.” Começou como monitora, passou por creches, escolas particulares e outras academias. Como a maioria dos trabalhadores da arte, vivia de múltiplos vínculos, transitando entre três instituições ao mesmo tempo.
Em 2024, veio o baque e a virada. “Fui mandada embora. E foi aí que decidi: vou abrir meu espaço”. O dinheiro da rescisão virou investimento. Com a ajuda de duas amigas, Bruna alugou um imóvel antigo de 100 metros quadrados na Ceilândia, acessível o suficiente para que o sonho coubesse no orçamento. Assim nasceu a Ecoar Dance, fruto de coragem, improviso e muita vontade de fazer diferente.
“Eu pensei em abrir escola em outro lugar, mas percebi que a Ceilândia quase não tem dança. É muito grande, muito espalhada. E a dança cura. Ela tira da marginalização, abre portas. Eu queria que isso fosse acessível aqui”, explica e assim, a escolha do território virou propósito.

Atualmente, a Ecoar Dance, escola que foi aberta oficialmente em abril de 2025, oferece balé clássico, jazz dance e danças urbanas. São três professores e turmas pequenas, que começam a ganhar corpo. “Foi difícil preencher as turmas no início. Mas agora, em setembro, começaram a encher. Temos jazz adulto, balé infantil, balé juvenil, hip hop… Está crescendo devagar, mas está crescendo e isso me anima e me dá forças para continuar”, relata.
As mensalidades variam entre R$ 100 e R$ 160 – valores ajustados para caber na realidade local. Para facilitar o acesso, a primeira aula é gratuita mediante agendamento no Instagram.
A escola funciona de segunda a sábado, principalmente à noite, e já ensaia seu primeiro espetáculo, marcado para 6 de dezembro, no Teatro do Céu das Artes, de Ceilândia. “Criamos um roteiro sobre uma menina que vive em um orfanato e viaja para um país onde existe muita arte, um ‘País das Maravilhas’ da arte. Queremos mostrar para a comunidade o que estamos construindo”.
Além da paixão pelo balé, Bruna leva para a Ecoar Dance uma bagagem técnica rara para alguém tão jovem. Ela está no sétimo semestre de fisioterapia e quer unir as áreas. “Quero abrir turmas de pilates e psicomotricidade infantil. Para crianças menores de quatro anos, que ainda não podem fazer balé, a psicomotricidade ajuda no desenvolvimento motor, emocional e social”. Ela já criou uma ficha de anamnese personalizada, onde investiga histórico de saúde e lesões dos alunos. “É para respeitar os limites de cada um. A dança precisa ser acolhedora”.

Apesar do avanço, a empreendedora reconhece os desafios de começar sem apoio institucional. “Fui na cara e na coragem. Mas quero muito fazer curso de empreendedorismo. Preciso me profissionalizar, conhecer melhor o que o Sebrae pode me oferecer”. A mãe, também empreendedora, foi sua principal conselheira na hora de formalizar o CNPJ, organizar contas e montar a estrutura mínima.
A Ecoar Dance nasce, portanto, não apenas como escola, mas como posicionamento: Bruna quer democratizar um universo historicamente elitizado. “A dança pode salvar vidas. Ela me salvou. Eu quero que outras meninas daqui possam viver isso também”, diz Bruna.
A empreendedora sabe que seu empreendimento ainda é jovem – não tem nem um ano –, mas acredita que esse é só o começo. “Estamos construindo algo bonito, com alunos, professores e comunidade. De porta aberta, literalmente. Quem quiser, pode chegar, conhecer, fazer aula experimental. Esse sonho é coletivo’’, conclui.
Serviço – Ecoar Dance
Redes Sociais: @ecoardance
WhatsApp: 61 99586-8222

