Como parte da programação do Sebrae Inova 2025, o Sebrae no Distrito Federal promoveu uma visita técnica especial a três locais que são referência na arte, na cultura e no empreendedorismo local: o Instituto Maria do Barro, em Planaltina, a Escola de Cerâmica e Escultura Paulo de Paula, na Asa Norte, e a recém-revitalizada Casa de Chá, localizada na icônica Praça dos Três Poderes.
A ação reuniu uma comitiva de 22 participantes – entre arquitetos, designers, artesãos e representantes do Sebrae no DF – com o objetivo de aproximar esses profissionais do universo do trabalho feito à mão, incentivando parcerias, trocas criativas e a valorização do processo artesanal. Para o Sebrae, compreender os bastidores do trabalho manual é essencial para que profissionais da cadeia da economia criativa passem a reconhecer o valor agregado das peças, suas histórias e o impacto cultural que carregam.
“Levamos esse time para que conhecessem o processo produtivo, porque fazendo isso eles conseguem entender o que está por trás das peças e por que elas têm determinado valor. É também um momento de interação, de networking, de troca de técnicas. Finalizamos com um café na Casa de Chá, que está em um local tão emblemático, reunindo arquitetura, artesanato, design e memória”, explicou Juliana Mota, analista da Gerência de Negócios em Rede do Sebrae no DF.
Do barro à arte em Planaltina
A primeira parada da comitiva foi no Instituto Maria do Barro fundado a partir do legado da pioneira Maria Augusta Erich de Menezes, popularmente conhecida como Maria do Barro. A ceramista, que atuava com comunidades em vulnerabilidade por meio da fabricação coletiva de tijolos, inspirou a criação do instituto em 2006, após sua morte. Atualmente presidido por Idalete Silva, o espaço atua com base em doações e voluntariado, mantendo viva a herança comunitária da fundadora.

Recebidos pela ceramista Carmem Azevedo, os visitantes conheceram o acervo de peças já expostas em feiras e eventos nacionais. “Depois que nossos trabalhos foram expostos em São Paulo, a cantora Anitta comprou algumas peças e as tem em casa. Isso nos deu visibilidade e alavancou nossas vendas”, contou Carmem.
Além de compreender as técnicas de produção, os participantes também puderam adquirir peças, apoiando diretamente os artesãos locais. “Brasília é um celeiro de talentos criativos, e o artesanato local carrega uma identidade única, que precisa ser mais reconhecida e valorizada pelo próprio empresariado da cidade. Quando aproximamos arquitetos, designers e empreendedores desses ateliês, mostramos não apenas a beleza e originalidade das peças, mas também o valor de cada processo, de cada história por trás do que é feito à mão”, destacou Felipe Fernandes, gestor do projeto de Artesanato do Sebrae no DF.
História, memória e resistência em cerâmica
A segunda visita ocorreu nas instalações da Escola de Cerâmica e Escultura Paulo de Paula, fundada oficialmente em 1993, mas com raízes ainda mais antigas. O artista Paulo de Paula iniciou sua jornada na cerâmica em 1990, no Museu Vivo da Memória Candanga, ao lado do mestre José Nicodemos, quando deixou o cargo de servidor público para seguir sua paixão artística e se formou em Artes Plásticas na Faculdade Dulcina de Moraes.
Seu trabalho mais emblemático é a série Zé Ninguém, composta por 500 cabeças de cerâmica em forma de pião – referência tanto ao brinquedo quanto ao peão de obra. “Esses trabalhadores foram os primeiros sacrificados na construção de Brasília. Criar essa série foi a forma que encontrei de dar visibilidade a essas histórias”, explicou Paulo.

A escola possui cerca de 120 alunos e funciona com uma equipe de quatro professores, oferecendo aulas em diferentes turnos. Nos últimos anos, o espaço se tornou um polo de formação e produção em cerâmica no Distrito Federal, com ateliês parceiros lado a lado, promovendo uma rede de colaboração entre artistas formados na própria escola.
Encerramento simbólico na Casa de Chá
A visita técnica foi encerrada com um café especial na Casa de Chá, localizada na Praça dos Três Poderes. O espaço foi reaberto ao público em junho de 2024, com base no projeto original de Oscar Niemeyer, e hoje é uma referência de design, memória e gastronomia regional.
Com mobiliário assinado por designers locais e peças em cerâmica do Cerrado, o ambiente celebra a produção artística e cultural de Brasília. O cardápio, assinado pelo chef Gil Guimarães, valoriza ingredientes e nomes ligados aos biomas brasileiros. O café, por exemplo, é cultivado em fazendas do DF.
“Receber arquitetos e designers nesse espaço icônico é muito interessante para mostrar a importância da valorização do nosso patrimônio e contar curiosidades sobre Brasília. A maioria dos visitantes hoje é de moradores da cidade, e queremos atrair cada vez mais o turismo local e nacional’’, explicou Jackeyline Reis Mapurunga, responsável pela Casa de Chá.

As visitas integram a estratégia do Sebrae no Distrito Federal de promover a convergência entre os projetos de artesanato, arquitetura e design, com o objetivo de fortalecer o empreendedorismo criativo e fomentar conexões significativas entre os agentes do Distrito Federal.
A designer Nina Coimbra foi quem articulou com os espaços para formatar o roteiro e estimular a troca de experiências e ampliar o olhar dos participantes sobre o potencial do trabalho feito à mão.
“Pensamos em tipologias que fossem interessantes para o nosso público — arquitetos, artesãos e designers — e chegamos à cerâmica, por ser uma materialidade comum trabalhada de formas muito distintas. Buscamos justamente artistas com abordagens diferentes, para mostrar como a mesma matéria-prima pode resultar em expressões únicas. Parte do propósito dessa missão é provocar encontros, gerar conexões reais e estimular uma rede de troca entre os profissionais criativos do DF”, finalizou.
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