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CED São Bartolomeu desenvolve habilidades empreendedoras em estudantes da educação especial

Unidade escolar localizada em São Sebastião contou com apoio do Sebrae no DF e promove iniciativa inspirada no Programa Jovens Empreendedores Primeiros Passos
Por José Maciel | Clip Clap Comunicação
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Nem mesmo a intensa chuva que caiu sobre as diversas regiões administrativas do Distrito Federal no último sábado, 6 de dezembro, foi capaz de mitigar a empolgação de um grupo de estudantes do Centro Educacional (CED) São Bartolomeu, em São Sebastião. A unidade educacional abriu as portas ainda nos primeiros horários da manhã para a realização de uma série de atividades, entre elas a inauguração da Lojinha da Felicidade, iniciativa inspirada na metodologia do Programa Jovens Empreendedores Primeiros Passos, o JEPP, e que mobilizou um total de 52 alunos, todos acompanhados por profissionais que integram a equipe de Educação Especial ofertada pela Secretaria de Estado de Educação do DF.

A figura central para a aplicação da metodologia do programa na unidade escolar foi a professora Luciene Silva, atualmente responsável pela Sala de Recursos da Educação de Jovens e Adultos Interventiva (EJAI). O caminho até o alcance desse objetivo foi iniciado ano passado, quando a educadora desembarcou na unidade escola e, com uma ampla experiência na educação inclusiva da rede pública do DF, colaborou para melhorar o acompanhamento feito a dezenas de estudantes que necessitam de uma educação de qualidade, que valoriza as diferenças e reconhece as potencialidades.

Com a incumbência de gerenciar a Sala de Recursos do CED São Bartolomeu, Luciene se dedicou a analisar o currículo e, ao ler com atenção o currículo preparado para desempenhar sua missão, notou que o trabalho teria como um dos objetivos o foco no desenvolvimento de competências para o mundo do trabalho. Neste momento, ciente dos distintos perfis dos estudantes com deficiência em diferentes graus de comprometimento, ela começou procurar por projetos que pudessem ser aplicados para colaborar com a realidade presente na escola.

“Foi nesse momento que fui participar de uma atividade da coordenação da escola e conheci a proposta do JEPP. Um consultor veio até nós e fez uma apresentação detalhada. Conhecia o papel do Sebrae, de sua importância para os empreendedores, e vi que o programa era tudo o que eu buscava”, conta.

Foto: Rafael Victor | Focus Produção de Imagem

A parceria entre o centro educacional e o Sebrae se intensificou no início de 2025, com a implementação de atividades remotas e presenciais. A Sala de Recursos foi beneficiada com uma doação de materiais didáticos do JEPP, livros que, embora tradicionalmente voltados para o Ensino Fundamental I, foram utilizados pelos estudantes, com as atividades adaptadas pelos educadores para atender às necessidades específicas dos estudantes.

Todo o trabalho continuou sendo acompanhado de perto por consultores do Sebrae no DF e, segundo a avaliação de Luciene, resultou em uma evolução notável. “Os alunos demonstraram um crescimento considerável. Ver a confiança deles crescer, as habilidades se desenvolverem e o senso de empoderamento florescer é incrivelmente gratificante. Este pequeno evento que realizamos hoje celebra o poder da educação inclusiva e o impacto transformador que ela pode ter em vidas jovens”, afirmou Luciene.

A professora também destacou o amplo impacto do JEPP, observando que ele beneficiou não apenas os estudantes, mas fortaleceu todo o ecossistema da educação inclusiva. “Avalio que o programa gerou um impacto de longo alcance, alcançando não apenas os alunos, mas toda a comunidade que trabalha com a educação inclusiva no CED São Bartolomeu. Desenvolver essa metodologia foi um verdadeiro testemunho do poder da colaboração e do potencial transformador das práticas inclusivas”, completou Luciene.

Professora de linguagens do segundo segmento da EJAI do CED São Bartolomeu, Edilene Coelho Rodrigues também esteve amplamente envolvida na aplicação da metodologia do JEPP. Assim como Luciene, ela conhecia a atuação do Sebrae com os donos de pequenos negócios e ficou entusiasmada com a proposta do programa de formar novos empreendedores.

Foto: Rafael Victor | Focus Produção de Imagem

Edilene participou ativamente de todas as etapas de capacitação conduzidas pelos consultores do Sebrae. Dessa forma, ela pôde absorver os conteúdos necessários e se tornar uma agente multiplicadora, transmitindo os conhecimentos adquiridos e motivando os alunos a aplicarem na prática o que haviam aprendido em sala de aula.

Como resultado de todo o trabalho colaborativo, os estudantes puderam desenvolver diversas habilidades empreendedoras, como a criação de marca, a realização de pesquisas de mercado, a gestão financeira, a fabricação de produtos para comercialização e técnicas de atendimento ao cliente. Essa abordagem prática e vivencial permitiu que eles colocassem em prática os conteúdos teóricos apresentados no livro sobre jardim sensorial, que propõe a criação de um espaço para estimular os cinco sentidos (visão, olfato, tato, audição e, às vezes, paladar) por meio do contato com a natureza e diferentes materiais. O objetivo é aguçar as percepções, promover o bem-estar e facilitar o desenvolvimento cognitivo e motor, tornando-se uma ferramenta educacional e inclusiva.

“Eles mesmos escolheram o nome da marca. Optaram dentre as opções por Lojinha da Felicidade. Como foi uma metodologia adaptada, conseguimos ver quem se encaixaria melhor em cada função e distribuir bem as atividades para que todos pudessem participar”, explicou ela.

A iniciativa contou com um esforço coletivo de diversos atores. Foi um trabalho em equipe que envolveu professores, coordenadores, educadores sociais, uma consultora do Sebrae e as famílias dos estudantes.

Foto: Rafael Victor | Focus Produção de Imagem

Os estudantes produziram tudo utilizando materiais doados e também aproveitam a hora escolar para cultivar mudas de espécies diversas ao longo do ano.

“Uma solução igual ao JEPP era o que a gente precisava na escola. E participar dessa experiência foi apaixonante, encantadora e um tanto especial. Eu já tinha noção de que iria me surpreender ao longo do ano, mas fazer parte desse trabalho foi marcante, ainda mais por ser o seu primeiro ano como educadora da EJA”, complementou a educadora.

Edilene também comentou que um dos desafios foi a adaptação da metodologia do livro do programa à realidade dos estudantes. No entanto, segundo ela, esse trabalho foi determinante e, com o apoio do Sebrae, foi de extrema importância para que o comportamento empreendedor pudesse ser difundido em um ambiente escolar carregado de esperança. “Foi muito importante ter o livro físico para os estudantes. Eles precisavam desse material e nós, educadores, também. Todos abraçaram a proposta de uma maneira incomparável e nós já conseguimos enxergar alguns desses estudantes atuando de forma mais independente e, por que não, no mercado de trabalho”, pontuou.

Uma das estudantes mais entusiasmadas com o funcionamento da Lojinha da Felicidade foi Paula Conceição da Cruz. Moradora de São Sebastião e aluna da unidade educacional há 16 anos. Paula recebei ainda na infância o diagnóstico de Deficiência Intelectual (DI), uma condição do neurodesenvolvimento que se manifesta antes dos 18 anos de idade e que é caracterizada por funcionamento intelectual significativamente abaixo da média, além de limitações em habilidades adaptativas, como comunicação, autocuidado e habilidades sociais. Tal condição ainda causa dificuldades de aprendizado, raciocínio e aplicação de novas habilidades, podendo ter diversas origens, como fatores genéticos, ambientais ou pré-natais.

Foto: Rafael Victor | Focus Produção de Imagem

Atualmente com 24 anos de idade e apesar dos desafios, a participação de Paula no projeto do CED São Bartolomeu deixou as educadoras satisfeitas. Ela revelou ter agido como uma chefe durante toda a realização, ajudando a realizar tarefas como precificar, colocar rótulos e organizar os itens que foram comercializados durante a operação da pequena loja. A estudante também conseguiu desenvolver a oralidade e a autoestima, obtendo avanços também na alfabetização e em cálculos matemáticos. “Tudo o que via e pensava que estava errado, eu dava um jeito para arrumar. E foi legal. Este é o meu trabalho”, afirmou a jovem estudante.

A mãe de Paula, Jorlene Maria da Conceição, acompanhou emocionada a atuação da filha dentro da estrutura montada na unidade escolar. Ela considerou a participação de Paula na Lojinha da Felicidade como uma iniciativa extremamente positiva, destacando que, até então, sua filha não tinha muitas perspectivas ou planos claros para o futuro. A experiência proporcionada com o apoio do Sebrae, portanto, é vista como um passo importante para o desenvolvimento e a construção de um caminho para a filha.

Foto: Rafael Victor | Focus Produção de Imagem

“A Paula sempre demonstra interesse por muitas atividades. Ela é muito inteligente e sempre busca me ajudar em casa e em outras situações. Mas o desenvolvimento dela neste ano foi bem superior ao de anos passados. O trabalho foi feito de uma maneira melhor e contribuiu para que a minha filha pudesse evoluir. Só a agradecer por isso”, completou a mãe da estudante.

Jorlene falou ainda sobre a importância do projeto organizado pela unidade escolar em parceria com o Sebrae ir além do aprendizado em sala de aula. Ela considera a promoção da cultura empreendedora essencial para os estudantes, em especial para aqueles menos favorecidos e que precisam de uma perspectiva futura.

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