Em mais um movimento estratégico para fortalecer o potencial turístico do território brasiliense, o Sebrae no Distrito Federal promoveu na noite da última terça-feira, 28 de outubro, a 10ª edição do Lab Day em 2025. O evento, como de costume, movimentou o Sebraelab, no Parque Tecnológico de Brasília (BioTIC), e apresentou uma programação centrada na difusão de conhecimentos sobre o setor, além de servir de cenário para um reconhecimento inédito voltado para a cadeia produtiva do café local, com a entrega do Prêmio Café do Cerrado Central.
A premiação é resultado da articulação entre Sebrae no DF, Sistema Fape/Senar/Sindicatos e Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (Seagri/DF) e foi lançada no mês passado, durante um evento promovido no Parque da Granja do Torto (PGT). O objetivo da iniciativa foi valorizar a produção local e fortalecer a identidade do café do Distrito Federal e entorno, que já reúne aproximadamente 43 produtores em escala comercial e outros 120 em fase de desenvolvimento.
Presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae no DF e do Sistema Fape/Senar/Sindicatos, Fernando Cesar Ribeiro, destacou o propósito da premiação e os esforços para tornar o DF um dos principais polos de cafeicultura do país. Ele informou que todas as amostras avaliadas superaram 81 pontos, o que, segundo a Specialty Coffee Association (SCA), classifica o café como especial e de alta qualidade, com base em uma análise de critérios sensoriais.

“Aqui no Distrito Federal, reunimos todas as características para a produção de um café de excelência. Contamos com altitude favorável, boa incidência de luz solar, solos férteis e produtores e instituições dedicados a impulsionar uma produção de grande qualidade”, afirmou Fernando.
A diretora técnica do Sebrae no DF, Diná Ferraz, também reconheceu o potencial produtivo da área rural brasiliense e destacou o papel da instituição no fortalecimento da cadeia produtiva do café. “A atuação do Sebrae visa valorizar e incentivar cada vez mais os pequenos produtores e fortalecer essa importante cadeia do nosso agronegócio. A concepção e a entrega deste prêmio são o início de uma jornada que empreenderemos para estimular, valorizar, divulgar e disseminar os excelentes cafés que possuímos”, comentou.

A superintendente do Sebrae no DF, Rose Rainha, também marcou presença no evento, reforçando o apoio e a valorização dos produtores de café e do setor de turismo local. Ela enalteceu o papel do Sebrae em promover a integração entre as cadeias produtivas, gerar visibilidade para os empreendedores e ampliar oportunidades de negócios sustentáveis e inovadores. “Hoje é uma noite especial para nós, que, junto com o Sistema Fape/Senar/Sindicatos, estamos celebrando não só o sabor, mas também a dedicação, a história e o trabalho incansável dos produtores de café da nossa região, que transformam paixão em qualidade e excelência”, afirmou.

O secretário-executivo de Agricultura, Pedro Paulo Gama, também salientou o empenho e a dedicação dos produtores de café do Distrito Federal. Ele mencionou algumas recentes premiações recebidas por produtos provenientes do DF e afirmou que o cultivo de café na região segue a mesma trajetória de sucesso.
Na sequência, o público presente ao Sebraelab conheceu os três melhores cafés reconhecidos pela premiação. Em um processo rigoroso e padronizado conhecido como cupping, os cafés são avaliados segundo protocolos internacionais da SCA para determinar sua qualidade. Esse método detalhado exige um ambiente controlado – bem iluminado, silencioso e sem odores – e a preparação cuidadosa das amostras.
A avaliação foi comandada por Kwong Jork Yeung, popularmente conhecido como K.J., e sua equipe. Ele é administrador pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), técnico em cafeicultura pelo Instituto Federal Sul de Minas e mestre de torra formado por Ensei Neto e Isabela Raposeiras. Atua no setor cafeeiro desde 2013 e integrou o comitê organizador da Semana Internacional do Café (SIC).

K.J. explicou como foi feito o processo de avaliação sensorial, que compreende várias etapas: análise do aroma seco (fragrância), infusão, quebra da crosta para liberação de aromas e remoção de resíduos, enquanto a prova em si ocorre enquanto o café esfria, permitindo aos degustadores sorver o líquido para aerá-lo e analisar a evolução dos sabores. A pontuação é feita numa escala de 100 pontos, considerando atributos como fragrância/aroma, sabor, finalização, acidez, corpo, uniformidade, equilíbrio, limpeza, doçura, e a ausência de defeitos, além de uma pontuação global.
Todo o processo de torra e avaliação sensorial foi realizado no Laboratório de Análise Sensorial, da Universidade de Brasília (LASENS/UnB), sob a coordenação de K.J. Também participou do processo preparatório de avaliação, que consistiu na codificação das amostras e na disponibilização de espaços e estruturas adequadas à torrefação, a professora e coordenadora do LASENS, Lívia de Lacerda de Oliveira, e toda a equipe do Laboratório de Alimentos e Bromatologia da instituição de ensino.
A atuação da universidade assegurou a transparência de todo o processo e garantiu a surpresa dos premiados, já que somente no momento da cerimônia foram revelados os nomes dos vencedores, quando Lívia entregou à mestre de cerimônias os envelopes lacrados com o nome dos vencedores.
Ao todo, concorreram à premiação 13 produtores, com 21 amostras. O primeiro lugar foi para o Café Passárgada, produzido em uma área de meio hectare na Ponte Alta, no Gama, um dos lugares mais frios do Distrito Federal. A ideia de cultivo surgiu de uma parceria entre Juliano Coacci e Felipe Brige, há sete anos. “Fizemos o teste na chácara, que pertence aos meus pais. Plantamos algumas mudas para testar a adaptabilidade ao clima local e percebemos que elas se desenvolveram bem. Foi o pontapé que precisávamos para entrar de cabeça nessa jornada”, contou Juliano.

O plantio de novos pés, no entanto, só aconteceu em 2020 e seguiu sendo feito pela dupla. Atualmente, a área de cultivo é distribuída para a produção de até seis variedades de café, sendo as principais Arara, o premiado, e o Catuaí. “A gente sonhava em ser premiado, sim. Sempre soubemos da qualidade do nosso fruto. Toda a produção envolveu muito cuidado. Esse prêmio é um reconhecimento que queríamos e que vai nos ajudar a seguir cultivando café e buscando maneiras de ampliar e melhorar o nosso produto”, acrescentou Juliano.
Atualmente, a venda do Café Passárgada é feita diretamente para uma lista de clientes pessoais, pois a produção ainda é limitada e não consegue atender à demanda de cafeterias e torrefações.
O segundo lugar da premiação ficou para Flávia de Oliveira Penido, produtora do Café Penido, na variedade Catuí Vermelho. Já a terceira colocação ficou para Roberta Sara de Sousa Matos, proprietária do Sítio Cuitelinho, localizado no Núcleo Rural Morada dos Pássaros, na região de Brazlândia. Lá ela cultiva o fruto em uma área de 2 hectares e apresenta variedades como o Arara, Acauã e Siriema.

“Hoje eu estou muito emocionada, porque é o trabalho de uma pequena produtora. Tem sido uma batalha, um trabalho árduo, porque é um desafio todos os dias. Temos de mexer com mão de obra que, infelizmente, não encontramos facilmente na área rural. Mas sou raçuda. Se é para fazer, não tem peso que me limite”, assegurou Roberta.
Os cafés premiados demonstraram, segundo os avaliadores, uma excepcional qualidade na avaliação, alcançando, respectivamente, índices 86,58, 86,25 e 86 pontos, evidenciando o alto padrão dos produtos.
Os produtores reconhecidos também ganharam quantias em dinheiro, além de troféus de ouro, prata e bronze.
Experiências para o mercado turístico
A programação do Lab Day seguiu com uma apresentação conduzida pela especialista em enoturismo, experiências turísticas e consultora do Sebrae/GO, Juliana Carvalho. Ela abordou estratégias essenciais para o desenvolvimento e promoção do setor, com foco na comunicação e na experiência do cliente.

Juliana ressaltou que a comunicação digital é um pilar fundamental, exigindo a identificação precisa do público-alvo para direcionar as mensagens de forma eficaz. A escolha de canais de comunicação adequados e o uso de ferramentas digitais para monitorar e gerenciar a reputação online dos destinos e empresas foram apontados pela especialista como práticas indispensáveis.
Um dos pontos centrais discutidos por Juliana foi a criação de uma jornada do turista fluida e integrada. Ela explicou que isso significa considerar todas as etapas, desde o primeiro contato do viajante com a ideia de um destino até o compartilhamento de suas experiências após o retorno. A personalização dessa jornada, por meio da compreensão das necessidades e preferências dos diferentes perfis de turistas, foi destacada por Juliana como um diferencial competitivo.
A importância da análise de dados também ganhou destaque na apresentação, sendo apresentada como uma ferramenta poderosa para embasar decisões estratégicas. Ao coletar e interpretar dados sobre o comportamento do consumidor, tendências de mercado e resultados de campanhas, é possível, segundo Juliana, ajustar as estratégias de marketing e oferta de serviços, garantindo maior assertividade e otimização de recursos.
Por fim, Juliana enfatizou a necessidade de colaboração entre os diversos stakeholders do setor turístico – desde órgãos governamentais e associações até pequenas empresas e prestadores de serviços. Essa sinergia, conforme salientou Juliana, é vista como crucial para fortalecer a oferta turística, promover a inovação e assegurar um desenvolvimento sustentável que beneficie tanto os visitantes quanto as comunidades locais.
A analista da Gerência de Negócios em Rede do Sebrae no Distrito Federal e gestora dos projetos de turismo da instituição, Nathália Hallack, falou ao público sobre o processo de contribuição para a maior visibilidade de atrativos turísticos localizados no DF, em especial os da zona rural.

“O turismo do DF era conhecido por parecer não ter identidade. Pelas características próprias do local incorpora elementos de outras regiões, como Espírito Santo e Minas Gerais, resultando em algo difuso que parecia não ter identidade”, pontuou.
“No entanto, esse cenário mudou. O Distrito Federal se encontrou e a vocação da nossa região está muito clara: é sobre produção local de excelência, sobre criatividade, sobre inovação. É um território disruptivo. No entanto, novos desafios emergem e para que o turismo continue a avançar no território distrital, é preciso conectar as experiências locais ao mercado nacional e internacional”, complementou Nathália.
A analista e também gestora dos projetos de turismo do Sebrae, Laíse Cabral, demonstra otimismo e uma visão estratégica para o futuro do setor. Ela pontuou a necessidade de fortalecer verdadeiras conexões do mercado do turismo a diversas áreas, como gastronomia, hotelaria e artesanato, reconhecendo a capacidade inerente do turismo de integrar múltiplos setores da economia. “Por meio dessa união estratégica entre setores, o turismo brasiliense poderá avançar, deixando de focar exclusivamente nos moradores locais para se tornar um polo de experiências, ajudando a projetar a capital federal no cenário nacional e internacional”, concluiu.

Uma das formas de atuação do Sebrae no DF para viabilizar o avanço do setor turístico é, segundo Laíse, a consolidação do projeto Made in Quadrado. A iniciativa reúne empreendedores locais comprometidos na elaboração de produtos autênticos que são capazes de ressaltar a identidade local e tornar ainda mais intenso o potencial turístico do território brasiliense.
No evento, estiveram presentes diversos expositores que já integram o projeto, cuja marca é a reunião de produtores locais reconhecidos pela excelência da produção: Brasília Cachaça Tasting, Cabríssima, Cerrado Blue, Vinhedo Lacustre, Vila das Cabras e Malunga.
Todos os empreendimentos possuem experiências associadas à produção, enriquecendo mutuamente o produto e a experiência do turista e do consumidor. A Cerrado Experience, um ecossistema que promove o turismo sustentável e culturalmente enriquecedor, também marcou presença como expositora, mostrando diversas opções de roteiros e experiências turísticas no nosso território.
Além das empresas, a startup For You Nation também esteve no evento com soluções inovadoras para o mercado do turismo.

